Presidente da CNI é preso em investigação sobre corrupção no Turismo e Sistema S

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Prisão de Robson Andrade aconteceu na Operação Fantoche, que apura crimes contra administração, fraudes licitatórias, associação criminosa e lavagem de ativos. Ele foi liberado no início da noite

Robson Andrade CNI

O presidente da CNI, Robson Braga. MIGUEL ÂNGELO/CNI
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, foi preso temporariamente na manhã desta terça-feira em Brasília, durante a Operação Fantoche. A Polícia Federal investiga, em parceria com o Tribunal de Contas da União (TCU), um esquema de corrupção envolvendo contratos de entidades do chamado Sistema S– que inclui serviços como o Sesc, Senai e Senac – com o ministério do Turismo. Tais instituições são mantidas com a contribuição mensal de empresas, que repassam um porcentual do folha do pagamento às confederações de cada setor, e estas repassam aos serviços do sistema S, voltados à capacitação de mão de obra, incentivo à cultura e empreendedorismo, como o no caso do Sebrae. Ao todo, são 9 instituições que formam o sistema S. Andrade foi solto no início da noite, em Pernambuco, após audiência de custódia.

A investigação aponta que um grupo de empresas, sob controle de um mesmo núcleo familiar, atuava desde 2002 executando contratos firmados por meio de convênios com o Turismo e entidades do Sistema S. Segundo a apuração, foram desviados mais de 400 milhões de reais decorrentes desses contratos, que eram voltados, em sua maioria, à execução de eventos culturais e de publicidade superfaturados, ou também de eventos que não eram totalmente executados.

Ao portal G1, o delegado federal Renato Madsen afirmou que o esquema envolvia a criação de empresas de fachada para dificultar possíveis investigações. “Eles criam empresas sem fins lucrativos para dificultar investigação do TCU”, disse. “Queremos investigar até que ponto esse esquema partiu do Sistema S e reverberou em outros Estados”.

Robson de Andrade é presidente da CNI desde 2010. Em eleição realizada no ano passado, foi reeleito para o cargo por mais quatro anos, ou seja, até 2022. Mineiro, tinha boas relações com a ex-presidente Dilma, mas apoiou seu impeachment em 2016. No atual Governo, vinha cobrando espaço e interlocução para a indústria depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fundiu a pasta da Fazenda com o Planejamento. Guedes estava de olho na arrecadação do sistema S, e já havia anunciado em uma ocasião que era preciso “meter a faca” nesses recursos. Outros governos também já haviam chamado a atenção para esses recursos. Em 2018 o sistema S recolheu em torno 17 bilhões de reais, segundo apuração do portal G1.

Além do presidente da CNI, a Polícia Federal cumpriu outros nove mandados de prisão e 40 mandados de busca e apreensão nos Estados de Pernambuco, Minas Gerais, São Paulo, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Alagoas e no Distrito Federal. Um dos alvos da operação é o festival Sesi Bonecos do Mundo, organizado pela empresa Aliança Comunicação e Cultura, do Recife. Foram presos também Francisco Gadelha, presidente da Federação das Indústrias da Paraíba, Ricardo Essenger, presidente da Federação de Pernambuco, José Carlos de Andrade, da Federação de indústrias de Alagoas.

Segundo a PF, são investigados os crimes contra a administração pública, fraudes licitatórias, associação criminosa e lavagem de ativos. A CNI afirmou, por meio de nota, que “não teve acesso à investigação e acredita que tudo será devidamente esclarecido”, e que “está à disposição para oferecer todas as informações que forem solicitadas pelas autoridades”.

Já o ministério do Turismo afirmou, por meio de nota, que não é alvo das buscas e apreensões da Operação Fantoche e está à disposição para colaborar com a investigação. Informou também que a pasta não celebra nenhum convênio com a iniciativa privada desde 2012. E que o ministério já havia determinado uma auditoria completa “em todos os instrumentos de repasse antes mesmo de tomar conhecimento da investigação da Polícia Federal, ação que resultou no cancelamento de um contrato no valor de 1 milhão de reais”.