Estudo projeta cenários para um aumento de temperatura de 4° Celsius no país.
A maioria dos estudos climáticos prevê o que pode acontecer se a temperatura global subir 2° Celsius em relação à época pré-industrial, mas são grandes as chances de o planeta experimentar um aquecimento acima desse limite antes de 2100. As consequências seriam trágicas. No Brasil, há risco de 30% de a temperatura subir mais de 4° Celsius ainda neste século, o que levaria a perdas nas áreas determinadas para o cultivo de produtos como feijão, arroz, milho e soja.
Para a saúde, o impacto não seria menos desastroso, aumentando os índices de mortalidade por doenças cardíacas e criando condições muito mais favoráveis para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue, zika e chicungunha.
Os dados fazem parte do estudo Riscos de Mudanças Climáticas no Brasil e Limites à Adaptação, apresentado nesta quarta-feira pelo Centro de Monitoramento de Alerta de Desastres Naturais (Cemadem) do Ministério da Ciência e Tecnologia em parceria com a Embaixada Britânica no Brasil. O coordenador da pesquisa, Carlos Nobre, que é climatologista e presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), afirma que o cenário desenhado, de 4ºC ou mais até 2100, é algo factível, embora seja pouco estudado:
– Trinta por cento não é uma probabilidade pequena. E, mesmo se fosse pequena, temos que considerar, pois os impactos podem ser muito grandes.
Danos para a agricultura
Aumento da temperatura pode confinar produção de feijão no Brasil aos estados da região Sul e parte de Minas Gerais.
De acordo com o estudo, o Brasil tem cerca de 40% de chance de experimentar um aumento de temperatura de 4° Celsius antes de 2060 caso as emissões de gases do efeito estufa mantenham-se no ritmo atual. Desta forma, haveria uma drástica redução das áreas de baixo risco para as plantações de arroz, feijão e milho. No caso do feijão, haveria uma perda de 57% das áreas de baixo risco, que se tornariam, então, áreas de risco alto para a agricultura. Com isso, as lavouras desse grão ficariam restritas aos estados do Sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná)
As lavouras de soja teriam perda de 81% nas áreas de risco baixo. Segundo a pesquisa, o cultivo ficaria extremamente comprometido em quase todo o país, limitando-se ao Norte do Estado de mato Grosso. A projeção explica, aliás, que parte da produção desse grão já está migrando para essa região.
Problemas para a saúde
O prejuízo direto mais grave para a saúde do brasileiro é o estresse pelo calor. Temperaturas máximas contínuas acima de 37° Celsius e com alta umidade do ar impedem o corpo humano de perder calor por transpiração. Em caso de exposição prolongada, pode levar à morte. A maior parte do país apresentará extremo estresse por calor, afirma a pesquisa, levando a uma redução de 268 horas de trabalho anual em áreas como agricultura e construção civil.
Um aumento de 4° Celsius no país deixaria as regiões Norte e Centro Oeste, além dos estados do Piauí e Maranhão, no Nordeste, com condições climáticas de alto risco de mortalidade, com temperatura média igual ou maior que 30° Celsius. A população infantil exposta a esse problema será maior que 35% em estados como Acre, Amazonas e Pará. Entre os idosos, a taxa de mortalidade pode aumentar em 7,5 vezes.
Além disso, o aumento de temperatura proporciona condições ainda mais favoráveis que as de hoje para a proliferação do mosquito Aedes aegypti. A área de expansão do inseto no país vai se espalhar, e locais onde o problema já existe de forma intensa terão riscos ainda maiores de epidemia. Na região Sul, o aumento na frequência de inundações pode elevar em até 150% o número de casos de leptospirose.
Fonte: fsindical.org.br